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Se houver mais espaço para os carros, haverá mais carros – Peñalosa (parte 2)

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Foto de Bruno Gola, via Flickr

Foto de Bruno Gola, via Flickr

Para comemorar o Dia Mundial Sem Carro, aproveito para colocar aqui a segunda parte da entrevista com Enrique Peñalosa. Se você perdeu a primeira, leia aqui. Apareça hoje na Bicicletada do Dia Mundial Sem Carro.

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Dizem que a densidade urbana é boa para o meio ambiente. Mas como ela afeta a qualidade de vida das pessoas?

Falar sobre densidade lembra-me da discussão política entre direita e esquerda. Cada pessoa que fala sobre isso tem um significado diferente em mente. Densidade não é necessariamente um edifício de 50 andares, particularmente não em prédios residenciais. Áreas muito densas podem ser obtidas com prédios geminados de 4 a 6 andares. Os endereços mais valorizados do mundo estão localizados em áreas de alta densidade demográfica, em Paris, Londres, Nova Iorque, Madri, Estocolmo, Zurique.  Se os ricos, que poderiam escolher qualquer lugar, preferem viver ali, deve ver algo bom nisso. Mas nas novas cidades que estão sendo criadas, particularmente na Ásia, nós podemos fazer muito melhor do que nas já existentes: calçadas mais largas, ciclovias protegidas em todas as ruas, redes de bulevares exclusivos para pedestres e ciclistas com muitos quilômetros e assim por diante.

Densidade tem muitas vantagens: baixo custo, possibilidade de transporte público de alta freqüência, distâncias relativamente curtas, uso de bicicletas; É fácil comprar pão e leite caminhando; é possível assistir filmes, cortar o cabelo, tomar um café perto de casa. Em áreas densamente povoadas, encontramos mais pessoas em espaços públicos.

Você disse que cadeiras de rodas são grandes planejadores urbanos. Por quê?

Eu proponho uma máquina de planejamento urbano por uma cadeira de rodas elétrica com 3 lugares para o prefeito, o chefe de planejamento urbano e uma criança pequena, parente de um dos dois. Presos a ela, eles deveriam passear pela cidade. Em paises em desenvolvimento, eles descobririam que, na maioria das ruas, não seria possível ir de uma esquina à outra. Calçadas são o elemento infraestrutural mais importante para uma cidade de qualidade. Isso, antes de qualquer coisa, é o que diferencia uma cidade avançada de uma antiquada. Nós, humanos, somos pedestres, animais caminhantes… nós precisamos caminhar. Se uma cidade é segura, protetora e agradável para crianças, idosos, pobres e deficientes, em resumo, seus cidadãos mais vulneráveis, ela é uma boa cidade. E, claro, em termos de mobilidade, calçadas são cruciais.

Como é possível mudar uma cidade latino-americana de maneira duradoura, sem que o próximo governante desfaça o bem feito?

Não é só uma questão de quem é o prefeito. A raiz do problema nas cidades da América Latina é a desigualdade. Cidadãos de classe média e alta têm muito poder e não utilizam a cidade. Eles não caminham por espaços públicos, vão a clubes e shoppings ao invés de parques e calçadas. Eles se prendem desesperadamente a seus carros e quaisquer meios que os permitam não se misturarem com os outros como iguais. Eles não usam transporte público ou bicicletas. Eles não vivem na cidade, mas em espaços privados entre os quais se movimentam com o carro. Por isso, buscam condomínios fechados, vias elevadas, ruas largas e não se importam com calçadas, e muito menos com ciclovias.

Mas mesmo esses cidadãos iriam aproveitar uma boa cidade, com formidáveis espaços para pedestres, e apoiá-la. Mas, claro, tudo isso é frágil porque cidadãos de baixa renda tem pouca influência, assim como idosos e crianças. Cidades são planejadas e construídas para adultos de alta renda com carros.

A única maneira para que essas mudanças fiquem é trabalhar na construção de uma visão urbana compartilhada, e ter o máximo de participação popular possível.

O que você pensa sobre car-sharing?

Alguns carros são necessários na cidade. Mesmo aquele cidadão que utiliza a bicicleta e o transporte público ardentemente, eventualmente precisa de um carro. Por exemplo, ele precisa de um automóvel para levar a mãe ao médico, ou viajar para o interior. O que acontece é que aquela pessoa que não quer ter um carro compra um para essa ocasião em que, a cada duas semanas ou dois meses, precisa dele. E aí, acaba utilizando o carro mais frequentemente. Por isso, táxis não são apenas úteis, são também indispensáveis, assim como carros de aluguel, car-sharing e assim por diante.
Decisões polêmicas (como o pedágio urbano ou fechamento de ruas) deveriam ser feitas de uma maneira puramente técnica ou política?

Não existe nenhum nível “natural” de uso de carros em uma cidade. Se houver mais espaço para os carros, haverá mais carros; se houver menos espaço, haverá menos carros. O recurso mais valioso em uma cidade é seu espaço viário: é mais valioso do que todo o petróleo ou diamantes que poderiam ser encontrados. A forma como esse espaço é distribuído entre pedestres, ciclistas, transporte público e automóveis diz mais sobre a democracia do que qualquer procedimento político.

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Mais sobre o dia sem carro:

Reportagem no SPTV.
Pérola do Reporter quando um motorista diz q foi de carro pq “trabalha”: “Que coincidência, eu também estou trabalhando!” E o bônus: eu apareço no finalzinho do vídeo na vaga viva! haha.

A Prefeitura de SP não fez nada (a Secretaria de Transportes, inclusive, empurrou  a bola pra Secretaria do Verde, dizendo que era ela a responsável pelo evento.. tsk, tsk). Mas no Rio, o Prefeito pedalou, além de ruas terem sido fechadas aos carros, criação de zonas 30 em Copacabana e todas as repartições públicas terem fechado seus estacionamentos

E a bike que venceu o helicóptero no Desafio Intermodal chegou à mídia gringa. Mais sobre o Intermodal no CicloBR e +Vá de bike+.

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Publicado em Cidades, Políticas Públicas, por Vitor Leal Pinheiro, Transporte Tagged: Bike, Bogotá, Ciclovia, Dia Mundial Sem Carro, DMSC, Enrique Peñalosa, Metrô, Mobilidade Urbana, SPTrans, Transmilênio, transporte público, trânsito

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